Festa no MEC, Velório no PISA: Por Que a Comemoração do Governo Ignora o Maior Risco para o Futuro do Brasil

Em Brasília, o governo federal realiza um ato de celebração pelos 95 anos do Ministério da Educação (MEC), com discursos, homenagens e, provavelmente, um bolo.

Cristian Ianowich

9/29/20253 min read

Em Brasília, o governo federal realiza um ato de celebração pelos 95 anos do Ministério da Educação (MEC), com discursos, homenagens e, provavelmente, um bolo. Enquanto isso, nos relatórios do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (PISA), o Brasil amarga as últimas colocações, um atestado global da tragédia educacional que vivemos. A dissonância entre a festa e a realidade é gritante.

Para um especialista em finanças, essa comemoração é mais do que um ato de relações públicas; é um sintoma de negação da realidade que ignora o maior risco de todos para o futuro econômico do Brasil. Este artigo não é sobre pedagogia, é sobre o custo financeiro de uma nação que se recusa a encarar seu fracasso mais fundamental.

O Ativo Mais Importante: A Educação Como Investimento em Capital Humano

No jargão econômico, o bem mais valioso de uma nação não é seu petróleo, seu minério de ferro ou suas safras, mas seu Capital Humano. Este é o conjunto de conhecimentos, habilidades e saúde da sua população. E o principal motor de valorização do capital humano é um só: a educação de qualidade.

Pense no Brasil como uma grande empresa. Seus cidadãos são seus funcionários. Uma empresa que não treina sua equipe, que não investe em suas competências, está fadada a perder competitividade e, eventualmente, ir à falência. É exatamente isso que estamos fazendo. Tratar a educação como um "gasto" a ser cortado, em vez do principal "investimento" a ser feito, é a nossa sentença de pobreza a longo prazo.

O "Downgrade" do PISA: O Que as Notas Baixas Realmente Significam para a Economia

Estar nas últimas colocações do PISA, que mede habilidades essenciais em leitura, matemática e ciências, é o equivalente a um rebaixamento da nossa nota de crédito para o futuro. Não é apenas uma vergonha acadêmica; é um diagnóstico de graves doenças econômicas que já estamos sofrendo e que irão se agravar:

  1. Baixa Produtividade Crônica: Esta é a consequência mais direta. Uma força de trabalho que tem dificuldade com interpretação de texto e raciocínio lógico não consegue operar máquinas complexas, otimizar processos, inovar ou prestar serviços de alto valor agregado. É por isso que o trabalhador brasileiro, mesmo se esforçando, produz menos valor por hora do que o de países desenvolvidos. Essa é a raiz do nosso baixo crescimento.

  2. Fuga de Cérebros e de Investimentos (IED): Empresas de tecnologia, farmacêuticas, de engenharia avançada ou de qualquer setor que dependa de mão de obra qualificada simplesmente não virão para o Brasil. Por que instalariam um centro de pesquisa aqui se não encontrarão talentos? Pior: nossos melhores e mais brilhantes jovens, ao perceberem a falta de oportunidades, buscarão o sucesso no exterior, em um processo contínuo de "fuga de cérebros".

  3. Uma Bomba-Relógio Fiscal: A má educação de hoje é o rombo fiscal de amanhã. Uma população com baixa qualificação resulta em salários menores (menor arrecadação de imposto de renda), maior informalidade e desemprego (maior gasto com programas sociais), e até mesmo em maiores custos com segurança e saúde.

A Comemoração Vazia: O Custo de Oportunidade da Inércia

Enquanto o Brasil "comemora" os 95 anos de uma instituição que entrega resultados pífios, nossos concorrentes no cenário global estão correndo na direção oposta. Países como Vietnã, Polônia e Estônia, que décadas atrás estavam em situação pior que a nossa, investiram maciçamente em educação de base e hoje colhem os frutos, com excelentes resultados no PISA e um crescimento econômico robusto.

A festa do MEC, portanto, não é apenas um ato de mau gosto; é um símbolo da nossa inércia. O custo de oportunidade dessa paralisia é medido nos trilhões de reais em PIB que deixamos de gerar e na prosperidade que negamos às futuras gerações.

Conclusão: Sem Educação, Não Há Futuro – Um Alerta ao Investidor de Longo Prazo

Para qualquer investidor sério que analisa o Brasil como uma aposta de longo prazo, a conclusão é sombria e inevitável. Os gráficos da bolsa, a cotação do dólar e a taxa Selic são importantes, mas o indicador mais fundamental para o futuro de qualquer nação é o seu desempenho educacional. E nesse quesito, o Brasil está sendo reprovado com louvor.

A comemoração dos 95 anos do MEC, desconectada da realidade dos resultados, é um sinal de que nossos líderes ainda não entenderam que a educação não é uma pauta social acessória, mas sim o alicerce indispensável para a construção de uma economia próspera e de um país verdadeiramente independente. Enquanto a festa continua em Brasília, o futuro do Brasil está sendo velado nas salas de aula.

O que você acha? Temos o que comemorar na educação brasileira? Deixe sua opinião nos comentários.