A Ilusão dos R$ 5.000: A Verdade Amarga por Trás da Nova Faixa de Isenção do Imposto de Renda

Em uma jogada de marketing político digna de aplausos, o governo federal anuncia com estardalhaço a "ampliação" da faixa de isenção do Imposto de Renda para R$ 5.000,00.

Cristian Ianowich

10/6/20253 min read

Em uma jogada de marketing político digna de aplausos, o governo federal anuncia com estardalhaço a "ampliação" da faixa de isenção do Imposto de Renda para R$ 5.000,00. A manchete é bonita, a propaganda é eficiente, e muitos brasileiros comemoram o que parece ser um alívio merecido no bolso. Mas, como especialista em finanças, meu dever é te convidar a olhar por trás da cortina.

A verdade é que esta não é uma concessão generosa; é uma cortina de fumaça. Este suposto "ganho" não representa sequer a correção da inflação histórica e, pior, vem acompanhado de uma ameaça muito mais grave para a economia: a iminente tributação de dividendos, tudo isso enquanto a pauta de corte de gastos públicos continua esquecida em alguma gaveta empoeirada de Brasília.

A Matemática que a Propaganda Esconde: A Falsa Correção da Tabela do IR

Vamos aos números. A tabela do Imposto de Renda não tem uma correção integral pela inflação desde 1996. Se a faixa de isenção original daquela época fosse corrigida pela inflação acumulada até hoje, o valor isento deveria estar na casa dos R$ 5.500,00 a R$ 6.000,00.

Ou seja, a "nova" isenção de R$ 5.000,00 não é um ganho real. É apenas uma devolução parcial do poder de compra que a inflação já nos roubou ao longo de décadas. Na prática, o governo está apenas diminuindo o tamanho do prejuízo, e não concedendo um benefício. Milhões de brasileiros que antes eram isentos e passaram a pagar imposto por conta da inflação (um fenômeno conhecido como "correção fiscal pelo dragão inflacionário") continuarão pagando, ainda que um pouco menos.

A Outra Mão do Governo: Tirando do Investimento para Cobrir o Gasto

Enquanto o governo acena com a mão esquerda, oferecendo essa correção parcial, a mão direita se prepara para dar um golpe muito mais duro na economia. A fonte de recursos para cobrir a "perda" de arrecadação com o IR não virá de cortes na máquina pública, que continua inchada e ineficiente. Virá de uma nova taxação: a tributação de dividendos.

Dividendos são a parcela do lucro que uma empresa distribui a seus acionistas. Hoje, no Brasil, eles são isentos de imposto de renda para a pessoa física, uma medida que visa incentivar o investimento em empresas. Ao propor a taxação, o governo comete dois erros crassos:

  1. Bitributação: O lucro da empresa já foi taxado antes de ser distribuído. Taxar o dividendo novamente é punir duplamente o capital produtivo.

  2. Afugentar o Investidor, Especialmente o Estrangeiro: Para um investidor de Nova York, Londres ou Singapura, a isenção de dividendos era um dos poucos atrativos que o Brasil oferecia para compensar nosso altíssimo risco-país. Ao eliminar essa vantagem, o governo está dizendo claramente ao capital internacional: "Vá investir em outro lugar".

O Impacto no Seu Bolso e na Economia do Futuro

A combinação de uma política fiscal irresponsável (não cortar gastos) com uma política tributária punitiva (taxar dividendos) é a receita para o desastre.

  • Fuga de Capital Estrangeiro: A taxação de dividendos diminuirá drasticamente o fluxo de investimento estrangeiro para a nossa bolsa de valores. Menos dólares entrando significa um Real mais fraco e, consequentemente, mais inflação no seu custo de vida em Palmas.

  • Menos Investimento na Economia Real: Com menos atratividade para se investir em ações, as empresas brasileiras terão mais dificuldade e um custo maior para captar recursos via bolsa de valores. Isso significa menos dinheiro para construir novas fábricas, inovar e gerar empregos.

  • Prejuízo para o Investidor Brasileiro: Milhões de brasileiros que investem em ações para a aposentadoria, buscando uma fonte de renda passiva com os dividendos, verão seus rendimentos diminuírem. A medida pune diretamente o poupador nacional.

Conclusão: Um Analgésico para um Paciente que Precisa de Cirurgia

A nova faixa de isenção do Imposto de Renda é um analgésico. Ela alivia momentaneamente uma dor crônica (a defasagem da tabela), mas não cura a doença. A doença real do Brasil é um Estado que gasta muito e gasta mal.

Em vez de realizar a cirurgia necessária – um corte profundo e corajoso nos gastos públicos –, o governo opta por mais uma dose de morfina fiscal, enquanto busca uma nova veia para sugar o sangue da economia: o capital produtivo.

Não se iluda com a manchete. O que parece um presente hoje pode se revelar uma conta muito cara a ser paga amanhã, na forma de menos investimentos, menor crescimento e uma economia mais frágil para todos nós.

O que você achou da nova faixa de isenção? E da proposta de taxar dividendos? Deixe sua análise nos comentários!