A Desconexão Natalina e o Risco Brasil: Análise Fiscal e Comparativo Brasil-EUA

A Dissonância entre Retórica e Realidade Econômica: O Custo do Risco Brasil e o Comparativo Tributário com os EUA

O discurso presidencial proferido no dia 24 de dezembro gerou repercussões imediatas e preocupantes entre analistas de mercado, investidores e especialistas em finanças públicas. Ao pregar a “união” em rede nacional, enquanto mantém uma postura rígida e politicamente seletiva — evidenciada pela negativa de indulto natalino aos condenados pelos atos de 8 de janeiro —, o Executivo sinaliza ao mercado que a polarização política continua sendo uma diretriz de governo. No entanto, para a economia, o problema transcende a esfera ideológica: a desconexão entre o discurso oficial e a realidade das ruas (com o aumento visível da população em situação de vulnerabilidade) e dos gráficos financeiros (inflação e gastos públicos) acende um alerta vermelho sobre a sustentabilidade fiscal do país.

Como especialista em finanças e tributação, é fundamental dissecar como essa “cegueira deliberada” impacta o bolso do contribuinte, a atração de investimentos e o Risco Brasil, traçando um paralelo necessário com o modelo norte-americano para entendermos o tamanho do nosso abismo estrutural.

O Risco Fiscal e a Ausência de Cortes de Gastos

O mercado financeiro opera baseado em expectativas e credibilidade. Quando um chefe de Estado ignora o aumento da inflação e o descontrole das contas públicas em seu pronunciamento, ele não apenas falha na comunicação, mas valida a tese de que não haverá esforço para o ajuste fiscal pelo lado das despesas. No Brasil, o governo atual tem demonstrado uma voracidade arrecadatória — buscando aumentar receitas via impostos — sem a contrapartida necessária da redução da máquina pública.

Essa dinâmica alimenta diretamente o Risco Brasil. Investidores estrangeiros, ao observarem um governo que gasta mais do que arrecada e se recusa a cortar despesas, exigem um prêmio de risco maior para investir aqui. A consequência imediata é a pressão sobre a curva de juros futura. O Banco Central, por sua vez, vê-se de mãos atadas: com a política fiscal expansionista (gastos altos) pressionando a demanda e os preços, a autoridade monetária não consegue baixar a taxa Selic na velocidade desejada, sob pena de perder o controle inflacionário. Juros altos encarecem o crédito, freiam o consumo das famílias e o investimento das empresas, criando um ciclo vicioso de baixo crescimento.

A Realidade das Ruas e a Inflação: O Imposto Invisível

A menção ao aumento de pessoas em situação de rua, ignorada no discurso, é um sintoma claro de uma economia que não gera oportunidades reais, apesar do assistencialismo. A inflação, que o discurso oficial tenta minimizar, atua como o mais cruel dos tributos, corroendo o poder de compra exatamente da camada mais pobre que o governo diz proteger.

Diferentemente dos EUA, onde a inflação também foi um problema pós-pandemia, o Brasil possui um mecanismo de indexação e uma memória inflacionária que tornam o combate aos preços muito mais custoso. Enquanto o Federal Reserve (Fed) americano maneja os juros para controlar uma economia aquecida pelo pleno emprego, o Brasil tenta controlar a inflação em um cenário de estagnação produtiva e dependência estatal.

Comparativo Tributário: Brasil x Estados Unidos

A raiz da incapacidade brasileira de crescer de forma sustentável, diferentemente da potência norte-americana, reside na estrutura do nosso sistema tributário e na forma como o Estado se financia.

  1. Base de Tributação:

    • Brasil: O sistema é focado no consumo. Tributos como IPI, PIS, COFINS, ICMS e ISS incidem em cascata sobre bens e serviços. Isso torna os produtos caros e o sistema regressivo (quem ganha menos paga proporcionalmente mais). A complexidade é tamanha que o “Custo Brasil” para manter uma empresa em conformidade é um dos maiores do mundo. Para sustentar os gastos excessivos mencionados anteriormente, o governo brasileiro tende a aumentar alíquotas sobre o consumo, penalizando a economia real.
    • Estados Unidos: O foco principal é a renda. O sistema é progressivo, tributando mais quem ganha mais. Não há um IVA federal (imposto sobre valor agregado); existe o Sales Tax, que é estadual e visível na nota fiscal (geralmente entre 6% a 10%), cobrado apenas na ponta final. Isso estimula o consumo, motor da economia americana.
  2. Retorno do Tributo:

    • No Brasil, temos uma das maiores cargas tributárias entre os países em desenvolvimento (beirando 34% do PIB), mas com um retorno em serviços públicos (segurança, infraestrutura, saúde) de baixa qualidade. O discurso desconexo da realidade ignora que o aumento de gastos não tem se traduzido em eficiência, mas apenas em inchaço da máquina.
    • Nos EUA, embora a carga tributária total seja menor que a brasileira em termos percentuais do PIB, a liberdade econômica e a facilidade de empreender (ambiente regulatório simples) permitem que o setor privado gere riqueza e emprego com muito mais dinamismo.
  3. Déficit e Moeda:

    • Os EUA possuem o “privilégio exorbitante” de emitir a moeda de reserva global (Dólar). Eles podem sustentar déficits fiscais maiores porque o mundo financia sua dívida.
    • O Brasil não tem esse privilégio. Quando o governo brasileiro sinaliza descontrole de gastos e falta de responsabilidade fiscal (como na ausência de planos de corte), o Real se desvaloriza. O Dólar alto pressiona a inflação doméstica (já que muitas commodities e insumos são dolarizados), forçando juros ainda mais altos.

Conclusão: O Preço da Negação

O discurso de 24 de dezembro não foi apenas uma peça de retórica política falha ao pregar uma união inexistente; foi um sinal econômico negativo. Ao ignorar a necessidade de pacificação real (via indultos ou gestos de conciliação) e fechar os olhos para a macroeconomia (gastos e inflação), o governo aumenta a incerteza jurídica e fiscal.

Para o investidor e para o pagador de impostos brasileiro, a mensagem é clara: o Estado continuará custando caro, entregando pouco e operando sob uma lógica que desafia a matemática financeira básica. Sem uma reforma administrativa séria e um choque de realidade na gestão das contas públicas, continuaremos presos na armadilha do baixo crescimento e da inflação persistente, olhando com inveja para a eficiência e o dinamismo do mercado norte-americano.

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